Os dois sócios da Primeira Linha Acabamentos estão presos há quase um mês
Símbolo da expansão imobiliária de alto padrão em Dourados, a loja Primeira Linha Acabamentos virou endereço de investigados por tráfico de drogas e principal fornecedora de materiais para construções de luxo usadas na lavagem de dinheiro do tráfico.
A conclusão faz parte de investigações no âmbito da Operação Prime, desencadeada pela Polícia Federal no dia 15 de maio deste ano, simultaneamente à Operação Sordidum (que mira outros suspeitos, ligados aos alvos da Prime).
Os dois proprietários da Primeira Linha – Marcel Martins Silva, 35, e Carlos José Alencar Rodrigues, o “Carlinhos” – estão presos há quase um mês. Segundo a Polícia Federal, os dois têm ligação com o tráfico internacional de cocaína e lavagem de dinheiro.
Marcel é “velho conhecido” da Polícia Federal. Em 2017, quando ainda morava no Paraná, foi alvo da Operação Enigma, acusado de tráfico internacional de cocaína. As investigações levaram ao irmão dele, Valter Ulisses Martins Silva, também alvo da Operação Prime, mas que segue foragido.
Condenado e logo beneficiado com o livramento condicional, Marcel se mudou de Curitiba (PR) para Dourados, onde se tornou sócio de duas empresas – a Primeira Linha e a Efraim Incorporadora, localizada no Bairro Chácaras Trevo. O sócio dele nessa empresa, Alexander Souza, também foi preso no dia 15 de maio, no âmbito da Operação Sordidum.
Investigada há 4 anos
A loja de Dourados entrou na mira da PF no âmbito da Operação Status, que mirou o Clã Morinigo, em 2020. Principais alvos da operação, os irmãos Jefferson e Kleber Morinigo faziam investimento considerável na construção e reforma de imóveis e quase a totalidade dos materiais de construção era comprada na Primeira Linha Acabamentos.
Localizada na Avenida Weimar Gonçalves Torres, no centro, a loja foi alvo de mandado de busca e apreensão na Operação Status, em 11 de setembro de 2020, mas não foram encontrados indícios substanciais sobre o envolvimento de Carlos José de Alencar no esquema.
Entretanto, ao investigar Marcel Martins Silva e Alexander Souza, a PF descobriu que os dois eram sócios na empresa Transfort Transportadora. Para a surpresa dos investigadores, a Transfort tinha como endereço as dependências da Primeira Linha Acabamentos.
Doleiro
A quebra de sigilo telemático dos investigados revelou ligação dos irmãos Marcel e Valter Martins Silva com o cambista de dólares Hector Rodrigo Salinas Esquível, que opera na linha internacional entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, onde mora.
Ele também foi alvo de mandado de prisão no dia 15 de maio, mas não foi localizado e segue foragido. Segundo a PF, Hector era o responsável pela gestão das contas de Valter e ajudava na lavagem de dinheiro do tráfico.
“Nos extratos recebidos, Valter é identificado pelo codinome ‘Hollister’ e apontado como titular de contas separadas por valores em reais, dólares e guaranis, sob controle de tal casa de câmbio e seus operadores. No período entre 29/08/2022 e 10/10/2022, constam múltiplas ordens de pagamento”, afirma a PF.
Os investigadores descobriram que operações controladas por Hector Esquível “injetaram” dinheiro na Primeira Linha Acabamentos após consultoria apontar rombo de R$ 12,5 milhões no financeiro da empresa. Segundo a PF, a loja de Dourados funcionava com mescla de dinheiro lícito e ilícito.
“Os elementos coletados indicam que Carlos Alencar, assim como a empresa Efraim Construtora, são utilizados por Marcel Martins em simulações de compra e venda para dissimular a real propriedade dos imóveis em teóricos procedimentos de lavagem de capitais”, cita a Polícia Federal.
Terreno de R$ 2 mi
Diálogos captados pela PF revelam que Marcel Martins era o verdadeiro proprietário de terreno vendido por R$ 2 milhões e que se encontrava oculto em nome de Carlos Alencar.
Após a venda, Marcel providenciou a transferência do imóvel para a Efraim Construtora por R$ 100 mil, formalizando, em seguida, a revenda a um cliente da Efraim pelo seu valor de mercado. “Tal manobra acabou por gerar lucro de R$ 1.900.000,00 para a Efraim Construtora, numa notória manobra de lavagem de capitais”, afirma a PF.
A Polícia Federal descobriu ainda que uma caminhonete Amarok, utilizada por um dos investigados que operava diretamente no transporte de cocaína, teve entre seus proprietários a Primeira Linha e uma funcionária da loja. Segundo os investigadores, são indícios de que a empresa e seus funcionários, supostamente com a anuência de Carlos Alencar, eram usados para registrar veículos utilizados para o transporte de drogas.
Outra situação que liga a Primeira Linha aos traficantes é o fato de outro funcionário da loja, Danilo Custódio Rebeque, aparecer como proprietário de uma BMW 320 Active Flex 2021/2022 avaliada em R$ 255 mil, incompatível com o salário do empregado. Segundo a PF, o funcionário era “laranja” de Marcel. Danilo foi preso temporariamente.
“O quadro sintético elaborado pelos investigadores demonstra bem os múltiplos e reiterados vínculos entre as pessoas jurídicas controladas pelo grupo de Marcel Martins e as pessoas de seu círculo de confiança, funcionários da Primeira Linha a esposa [Evelyn Zobiole Marinelli Martins, também presa], que se sucedem e se revezam nas sociedades empresariais, indicando fortemente que estejam figurando como interpostas pessoas para preservar a identidade do verdadeiro controlador, Marcel”, afirma a Polícia Federal.
No dia das operações, em 15 de maio, caminhões e veículos menores, todos ostentando a marca da Primeira Linha Acabamentos, foram apreendidos pela Polícia Federal.
Na casa de Marcel Martins, no condomínio de luxo Porto Madero, os policiais federais encontraram, no closet do quarto do casal, uma pistola 9 milímetros, uma pistola calibre 380, carregadores municiados de ambas as armas, carregadores alongados para maior capacidade de tiros, carregador de submetralhadora e 126 cartuchos de 9 milímetros e 380.
Marcel Martins Silva e Carlos Alencar estão entre os presos preventivamente e seguem recolhidos. A validade dos mandados de Evelyn e Danilo termina no dia 15 deste mês, mas podem ser transformados em preventiva. O processo tramita na 3ª Vara Federal em Campo Grande. (Do Campo Grande News)