Esqueça a simbologia criada em torno do “Dia do Índio“, quando, nas escolas o tema era tratado como uma data folclórica, com fantasias e rostos coloridos. A nomenclatura adotada para celebrar o 19 de abril é o “Dia de Luta e Resistência dos Povos Indígenas”, uma adaptação justa, que transcende o folclore e honra a luta dos moradores de 13% das terras brasileiras.
Yanomami, Guarani, Xavantes, Amanayé, Guató, Javaé. São 305 povos em todos os estados do Brasil –diversidade que gera 274 línguas, de acordo com dados do Censo Demográfico de 2010 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), o mais recente estudo de dados destinado ao grupo.
Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), desde 1500 até a década de 1970 a população indígena brasileira encolheu acentuadamente e muitos povos foram extintos. “O desaparecimento dos povos indígenas passou a ser visto como uma contingência histórica, algo a ser lamentado, porém, inevitável”, informa a entidade.
No entanto, segundo a Funai, esse quadro começou a dar sinais de mudança nas últimas décadas do século passado. “A partir de 1991, o IBGE incluiu os indígenas no Censo Demográfico nacional. O contingente de brasileiros que se considerava indígena cresceu 150% na década de 1990”, acrescenta a fundação.
O último Censo revelou que, das 896 mil pessoas que se declaravam ou se consideravam indígenas, 572 mil (63,8%), viviam na área rural e 517 mil (57,5%) moravam em terras indígenas oficialmente reconhecidas.
Cerca de 13,8% de todas as terras do Brasil são reservadas aos povos originários. No país, há 725 terras indígenas, em diferentes etapas do processo de demarcação, segundo o Instituto Socioambiental (ISA).
Dessas terras, somente 487 foram homologadas desde 1988. O governo de Jair Bolsonaro (PL) é o primeiro, desde a redemocratização do Brasil, a não demarcar nenhuma terra indígena, diz o instituto.
*Informações do Instituto Socioambiental (ISA)
Todos os estados brasileiros têm terras indígenas, embora a maior concentração esteja no Amazonas, com 164 áreas. Em seguida, o estado com mais terras indígenas é o Mato Grosso, com 79; seguido pelo Pará, com 64; e o Mato Grosso do Sul, com 56.
De acordo com o ISA, a jurisdição legal divide as áreas em Amazônia Legal (424 terras), Domínio Mata Atlântica (216 terras) e outros (85 terras).
O cacique Almir Suruí, pai de Txai Suruí, jovem brasileira que discursou na COP 26, lamenta que o dia 19 de abril não traz nada a ser comemorado no país.
Para o cacique, a data que ressalta a importância dos povos indígenas é um dia de luta coletiva, resistência e de enfrentar desafios, como “o acesso às políticas públicas pelos povos indígenas”.
“Não temos nada a comemorar nesse dia, porque ainda continuamos cheios de problemas, como invasões das terras indígenas, ameaças de mineradoras, governo usando discurso de ódio contra a nossa riqueza, que é o meio ambiente, e os nossos direitos de povos indígenas no Brasil”, disse à CNN.
“Então, o Dia do Índio, para nós, não tem nada o que comemorar. A gente tem que lutar. É um dia de resistência em defesa do direito coletivo dos povos indígenas do Brasil”, incluiu Suruí.