"Se você estiver melhor que eu, melhor que a Lia, melhor que o Marçal, você é candidato e eu vou apoiar”, diz deputado estadual em áudio enviado a Geraldo Resende
A entrevista do deputado federal Geraldo Resende à rádio Grande FM no sábado (3) causou crise sem precedentes na cúpula do PSDB em Dourados. Magoado por ser colocado de escanteio no processo de definição do candidato do partido à prefeitura, o deputado reclamou da falta de transparência da junta interventora e disse que não foi chamado para reunião recente do partido.
Em resposta, o deputado estadual Zé Teixeira, principal cacique da legenda na região, mandou áudio ao deputado criticando as falas recentes feitas por Geraldo em entrevistas e afirmou: “não faço mais política com você”.
Zé Teixeira iniciou a mensagem por áudio chamando Geraldo Resende de irresponsável: “Geraldo, essa reportagem sua é no mínimo irresponsável, porque a reunião aqui quem marcou não fui eu, quem marcou foi o secretário-geral do partido, o Sérgio de Paula. Segundo: ninguém impediu e nem impede você de ser candidato, porque você é eleitor de Dourados. Terceiro: você vai para a pesquisa. Se você estiver melhor que eu, melhor que a Lia, melhor que o Marçal, você é candidato e eu vou apoiar”.
O deputado estadual continua: “O que você está fazendo, na minha opinião, é refugiando as pessoas que te gostam, que te admiram, como eu. Como você coloca na imprensa que o povo tem dedo podre e a mente poluída?”, afirmou, em referência à entrevista concedida por Geraldo no ano passado ao jornal “Correio do Estado”.
Zé Teixeira disse que o companheiro de partido está perdido: “Você não é o Maomé, você é um ser humano como qualquer outro. Como deputado federal você é brilhante. Acho que você seria um excelente prefeito e muito responsável. Mas isso você tem que provar, e não a gente adivinhar que você é o melhor para prefeito. Você não foi ainda”.
Rompimento
Ainda no áudio, Zé Teixeira deixou claro que está rompendo politicamente com o deputado federal: “Não pretendo mais fazer política com você. Pelo que você falou, não tem motivo de eu fazer política com você. Você gravou entrevista agredindo a gente. Aqui não tem reunião clandestina, não, aqui tem reunião à luz do dia. Vou comunicar ao Reinaldo Azambuja e mandar essa matéria para ele. Não dá para tocar política com pessoa vaidosa e agressiva igual você está sendo”.
O ex-governador Reinaldo Azambuja é o atual presidente do PSDB em Mato Grosso do Sul e seu fiel escudeiro Sérgio de Paula é o secretário-geral do partido. Apesar de Zé Teixeira incluir Marçal Filho como um dos nomes do partido para ser candidato a prefeito, o radialista ainda está sem partido. Até o ano passado ele estava filiado ao PP (Partido Progressistas), o mesmo do atual prefeito Alan Guedes, mas pediu desfiliação.
A entrevista
Na entrevista à rádio Grande FM, Geraldo Resende afirmou que a junta interventora que comanda a legenda há seis meses ainda não definiu quais critérios serão adotados para escolher o candidato. “Infelizmente, até agora, a junta interventora não fez convocação para ouvir os filiados do partido, ainda mais quando se tem um filiado que é o deputado federal mais votado na cidade”.
Perguntado se participou de reunião recente do partido, Geraldo disparou: “não quero acreditar que tenham feito uma reunião deixando de fora um deputado federal”. Diante de outra pergunta, se o partido já não teria nome escolhido para ser candidato a prefeito, Geraldo Resende disse que seria “erro político” e demonstração de “miopia política sem igual”.
Sem citar nomes, Geraldo Resende afirmou que a política às vezes é “rasa”, onde os dirigentes, em vez de construir consenso e unidades e somarem esforços para determinadas missões, usam seus mandatos para destruir outros.
“É a política da autofagia. Querem derrotar seus oponentes em determinados projetos. Eu quero participar desse processo, por isso estou mantendo minha pré-candidatura, até para o partido dizer por que não devo ser candidato e por que meu nome não é aceito”, afirmou.
Em recado direto aos dirigentes, Geraldo afirmou que muitos “só pensam no umbigo e na política miúda” e contam que o dinheiro vai decidir eleição. “Não fui convidado para nenhuma reunião e nem sei se a junta interventora fez essa reunião. Vi algumas fotos, mas não quero acreditar que deixaram de fora o deputado que tem muito mais voto que todas aquelas lideranças políticas que eu vi na foto”, disse ele, garantindo que vai disputar a convenção do partido como pré-candidato.