As senadoras Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) centraram fogo, principalmente, em Jair Bolsonaro (PL) durante o primeiro debate entre os candidatos à presidência da República neste domingo. A emedebista foi um dos alvos do presidente, que a chamou “vergonha do Senado”. Também atacaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e fizeram proposta mirabolantes, como a da ex-bolsonarista, que prometeu isentar todos os professores do País do pagamento do Imposto de Renda.
Durante quase três horas, os seis candidatos a presidentes trocaram farpas e apresentaram propostas para resolver o problema do País. Ao falar sobre a harmonia entre os poderes, Simone aproveitou para atacar Bolsonaro, a quem criticou pelos ataques contra o Supremo Tribunal Federal e a imprensa. “Temos que trocar o presidente para ter paz”, provocou a emedebista. Bolsonaro não deixou barato e respondeu que se tornou alvo de ataques porque usou critérios técnicos para escolher os ministros e acabou acabando com o MDB, partido de Simone.
No primeiro confronto entre os candidatos, Soraya acabou perguntando para Simone e acabaram fazendo tabelinha para atacar a gestão do atual presidente durante a pandemia da covid-19. “A pandemia poderia ser melhor gerida se tivesse um presidente da República mais sensível com a dor”, lamentou a emedebista. “Eu não vi o presidente pegar a moto e visitar um hospital para dar o abraço em uma mãe”, critico.
Simone disse que Bolsonaro decretou calamidade para tudo, como furar o teto dos gastos, colocar dinheiro no bolso de políticos, mas não para resolver o problema da saúde. Ela prometeu decretar calamidade para zerar a fila por cirurgias eletivas, que ficaram represadas durante a pandemia.
Soraya disse que o “SUS (Sistema Único de Saúde) é bonito no papel, mas não na prática”. Ela se comprometeu a contar com a capacidade da iniciativa privada para realizar as cirurgias eletivas.
Em nova tabelinha, Simone perguntou para Soraya e as duas aproveitaram para relembrar os escândalos na gestão do Ministério da Educação, como o uso de pastores para negociar emendas com prefeitos e a compra superfaturada de ônibus escolares.
Neste momento, Soraya anunciou que, se eleita presidente, vai isentar do pagamento do IR todos os professores da rede pública e privada. “Não é conto de fadas”, garantiu a candidata, assegurando ter recursos para cumprir a promessa.
Autora do projeto que pretendia obrigar a EBC a divulgar as obras e ações do Governo federal, Soraya criticou o uso da TV estatal por Bolsonaro para fazer propaganda. Ela citou o exemplo do presidente português, Marcelo Rebelo, que teria usado a televisão pública para dar aulas aos estudantes durante a pandemia.
Ao responder à pergunta da jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, Bolsonaro atacou a repórter e Simone. “Você é uma vergonha para o Senado”, acusou o presidente. Em seguida, Bolsonaro disse que Tebet escondeu o escândalo envolvendo Carlos Gabas, que era secretário do Ministério da Saúde, e teria desviado R$ 50 milhões.
Ao falar sobre feminismo, Soraya e Simone ficaram na defensiva e ressaltaram que não fazem parte do movimento, mas defendem os direitos das mulheres. A senadora do MDB acabou confrontando novamente Bolsonaro, ao acusa-lo de espalhar fake news contra ela. “Não tenho medo do senhor e dos seus ministros”, afirmou.
Soraya ficou surpresa ao questionamento da jornalista Thays Oyama, do Uol, que lembrou uma declaração da senadora ao Pânico, da Jovem Pan, de que uma mulher vítima de estupro nem sempre pode estar falando a verdade. “Não é porque a acusadora é uma mulher, que é verdade”, reafirmou, destacando se advogada e ser defensora da paridade entre os sexos feminino e masculino.
Em outro momento, Soraya defendeu o estado laico e condenou a utilização do nome de Deus pelos políticos. “Usar na política o nome de Deus em vão é falta de respeito com a religião”, afirmou, fazendo menção a Bolsonaro e a esposa, Michele Bolsonaro.
Neste momento, a senadora saiu em defesa da jornalista Vera Magalhães e de Simone. “Tchutchuca com outros homens”, afirmou, sobre o comportamento do presidente com as mulheres. “Eu viro onça, não aceito isso”, reagiu Soraya, recorrendo a protagonista da novela Pantanal, Juma Marruá, que tem fama de virar onça para se defender.
Soraya rebateu o argumento de Bolsonaro de que criou o Auxílio Brasil de R$ 600. “O presidente propôs R$ 200. Os senadores e os deputados elevaram para R$ 600”, comentou, sobre o auxílio emergencial. “Sou vacinada contra mentira e não virei jacaré”, comentou.
Em novo confronto com Bolsonaro, Simone acusou o presidente de defender assassino de mulher e torturadores de mulheres. Ela ainda lembrou que ele votou contra os direitos das mulheres, como o pagamento de férias e registro em carteira das empregadas domésticas. “Por que tanta raiva das mulheres?”, questionou.
Após negar as acusações, Bolsonaro disse que a senadora estava se fazendo de vítima. “Chega de vitimismo”, alertou. Ele disse que defende a família e não viu a senadora defender os empresários que foram alvo de mandados de busca e apreensão autorizados pelo STF após defenderem um golpe de estado em caso da vitória de Lula. “Não pode ter presidente que mente e destila ódio”, reagiu Simone, voltando a citar que Bolsonaro estava usando fake news para ataca-la.
Ao questionar o petista sobre desemprego e inflação, Soraya aproveitou para critica-lo por ter “ficado no Governo por 14 anos”. Lula respondeu que conseguiu controlar a inflação, reduzindo de 12% para 5% entre 2003 e 2010, e que criou 22 milhões de empregos. Ele também falou da valorização do salário mínimo e da política de inclusão social.
“Esse mundo lindo só existe na propaganda”, criticou Soraya, contestando de que os tempos do petista tenham sido de vaga gorda. E aproveitou para defender a proposta de reunir 12 tributos federais em um único imposto, proposto pelo seu candidato a vice, Marco Cintra.
Lula afirmou que a senadora não sabia, mas o motorista, o jardineiro e a empregada doméstica de Soraya poderiam confirmar a sua história, de que a vida da população melhorou durante o seu governo. “Eles viram que o País melhorou”, garantiu o ex-presidente. Ele ainda desdenhou da proposta de Cintra. “Ele fez essa proposta há 30 anos e nunca foi levado em conta”, afirmou.
Ao ser questionada por Lula, Simone confirmou que houve atraso de 45 dias na compra da vacina para a covid-19, que poderia ter evitado a morte de milhares de brasileiros. Ela também destacou que houve corrupção e tentativa de compra superfaturada da covaxin, que acabou não se concretizando.
Lula defendeu as ações de seu Governo contra a corrupção, como a CGU, autonomia da Polícia Federal e as leis aprovadas no período. Ele lembrou da prática de Bolsonaro, de decretar sigilo de 100 anos para evitar a apuração de denúncias.
Simone admitiu que já foi a favor da reeleição, mas que, agora, é contra. Ela voltou a citar os escândalos de corrupção na gestão do PT, que envolveu até membros de seu partido, como o Mensalão e o Petrolão. No entanto, a senadora novamente esqueceu a gestão de Michel Temer (MDB), que foi denunciado duas vezes por corrupção no STF e é seu conselheiro político.
Soraya saiu em defesa do fundo especial eleitoral, que deverá destinar R$ 4,9 bilhões nas eleições deste ano. “Nem todo mundo tem o patrimônio que o senhor tem”, criticou a candidata, ao responder a pergunta do cientista política Felipe D’Ávila (Novo), dono de um patrimônio de R$ 24,6 milhões.
A presidenciável destacou que a maior parte dos políticos, principalmente, as mulheres não teriam condições de participar das eleições. “Não temos a cultura de doação dos Estados Unidos”, ressaltou. Após D’Ávila reagir de que os candidatos do Novo conseguem doações, Soraya lembrou que se elegeu senadora em 2018 gastando apenas R$ 80 mil. A senadora acabou se elegendo na onda de Bolsonaro, a quem agora faz oposição na campanha eleitoral.