O caseiro Angelo Gabriel Pereira França, 55, confessou ter assassinado o patrão, Vilson José Tondato, 65, com golpe de faca e um tiro de espingarda cartucheira calibre 28, na tarde de segunda-feira (28), no Sítio Jardim do Éden, na estrada 15ª Linha, município de Deodápolis.
Encontrado por policiais civis e militares na noite de ontem escondido no galinheiro perto da casa onde morava, na mesma propriedade onde ocorreu o crime, Angelo alega ter agido em legítima defesa, já que Vilson teria tentado matá-lo com a mesma espingarda.
O caseiro foi interrogado na manhã desta quarta-feira (30) na Delegacia de Polícia de Deodápolis. Acompanhado pelo advogado Heltonn Bruno Gomes Ponciano Bezerra, ele contou detalhes do desentendimento com o patrão e do momento do crime, em depoimento ao delegado Marcos Ibare Quaresma Pereira Junior.
Discussão após bebedeira
Trabalhando há quase um ano no sítio, Angelo França contou que o crime ocorreu após desentendimentos entre ele e Vilson Tondato no domingo (27).
Após o almoço daquele dia, os dois deixaram a propriedade no veículo do patrão para verem vacas leiteiras na 13ª Linha, mas no caminho pararam num bar e começaram a ingerir bebida alcoólica.
Depois de duas horas no estabelecimento, Vilson teria desistido de ir ver as vacas que pretendia comprar e voltaram para o sítio. Antes, passaram em um mercado na cidade para comprar mantimentos. Angelo conta que pediu para o patrão comprar mistura e um pacote de fumo para ele. Como resposta, o sitiante teria dito que o funcionário já lhe devia dinheiro e não sabia se ele daria conta de pagar.
Angelo disse que certa vez, ao levar o patrão que estava passando mal ao hospital, bateu a GM Blazer de Vilson em outro carro e o conserto ficou em R$ 5 mil. Mesmo ganhando R$ 1.500 por mês, ele pagava a dívida do conserto em parcelas mensais de R$ 1.000.
O caseiro alega que se sentiu humilhado, pois a declaração de Vilson teria sido feita na frente de outros clientes do mercado, e pediu ao patrão que falassem sobre a situação quando voltassem para o sítio.
Quando chegaram à propriedade, Vilson teria mandado Angelo pegar seus pertences e ir embora do sítio naquele mesmo dia. Caso se recusasse, teria dito: “as coisas vão ficar ruim pra você". O caseiro alega que teria respondido: “eu não sou nenhum objeto que o senhor usa e descarta, vamos descansar e amanhã cedo nós conversamos”.
Logo depois – ainda segundo a versão do caseiro – a esposa, a filha e o genro do sitiante foram até a casa onde Angelo morava para saber o que havia acontecido, pois Vilson estava muito bravo, dizendo que iria matar o funcionário. A mulher teria pedido que ele não fosse até a sede da propriedade para tratar os animais, temendo que o marido tentasse contra a vida do empregado.
Angelo afirmou que na noite de domingo e na manhã de segunda-feira viu o patrão circulando pela propriedade com duas espingardas. Por volta de 14h30, depois de passar boa parte do dia longe da vista de Vilson Tondato, os dois se encontraram perto da porteira de acesso aos açudes.
Assim que o viu, conforme o depoimento do preso, o sitiante teria lhe apontado a espingarda. Angelo alega que, para se defender, segurou no cano da arma e entrou em luta com o patrão. Ele afirmou que tentou convencer Vilson a largar a arma e conversarem, mas o patrão insistia em matá-lo.
Para se defender, segundo a versão do autor do crime, ele pegou a faca que sempre carregava na cintura, desferiu um golpe em Vilson (ele alega não se lembrar em qual parte do corpo), pegou a espingarda e disparou um único tiro no sitiante. Depois, contou o ocorrido para a mulher do patrão, cobriu o corpo com lona e fugiu para o mato.
Em depoimento, a mulher de Vilson Tondato disse que nos últimos tempos o marido estava se desentendendo como todo mundo e sempre que estava embriagado falava que mataria “quem quer que fosse”.
Segundo ela, o marido era “pessoa de cabeça quente” e temia que a qualquer hora o comportamento dele terminasse em tragédia. Angelo França foi autuado em flagrante. O delegado pediu à Justiça a prisão preventiva dele.