Apontado como líder de organização, Marcel Martins está preso, esposa em liberdade e irmão foragido
Preso há quase quatro meses acusado de liderar esquema internacional de tráfico de drogas, o empresário douradense Marcel Martins da Silva, 35, amealhou patrimônio de pelo menos R$ 100 milhões em menos de três anos.
Os dados fazem parte das investigações da Operação Prime, deflagrada pela Polícia Federal. Marcel, a esposa Evelyn Zobiole Marinelli Martins, outros empresários e vários outros integrantes da organização foram presos em 15 de maio deste ano.
A mulher está em liberdade provisória, outros acusados já foram soltos, mas Marcel segue recolhido, na Penitenciária Gameleira 2, em Campo Grande. Valter Ulisses Martins Silva, 27, irmão de Marcel e o segundo na linha de comando, segue foragido.
Conforme a denúncia do MPF (Ministério Público Federal) contra a organização, o “milagre da multiplicação” da riqueza dos Martins ocorreu após Marcel, Valter e o pai serem presos e condenados no âmbito da Operação Enigma, deflagrada pela PF em 2017 contra esquema de tráfico baseado em Curitiba e outras cidades paranaenses.
Após cumprir pena, os irmãos se instalaram em Dourados, onde se tornaram sócios de empresas no ramo de obras e materiais de construção. Mesmo com o patrimônio bloqueado judicialmente na Operação Enigma, a fortuna dos Martins cresceu exponencialmente após se instalarem em Mato Grosso do Sul. A investigação da PF afirma que o dinheiro veio do comércio de cocaína, supostamente em sociedade com a facção PCC (Primeiro Comando da Capital).
Em nuvem – Detalhes das investigações revelam que Marcel Martins Silva armazenava em nuvem a lista de seu milionário patrimônio, considerado “lícito”.
No arquivo, recuperado pela PF após quebra de sigilo determinado pela Justiça Federal, constam imóveis no Paraná, terrenos e casas de alto padrão em condomínios de luxo em Dourados, apartamentos em Campo Grande e nos litorais de Santa Catarina e Bahia.
Também fazem parte da lista os imóveis urbanos e rurais comprados por Marcel Martins em território paraguaio. Um deles é prédio localizado no centro de Pedro Juan Caballero, avaliado em 5 milhões de dólares.
Segundo a investigação, a anotação encontrada em nuvem (arquivos armazenados de forma online) revelou que Marcel Martins Silva tem R$ 35,4 milhões em imóveis e veículos no Brasil; 10 milhões de dólares em imóveis no Paraguai; R$ 16,5 milhões em cotas nas empresas das quais é sócio e 1,9 milhão de dólares em créditos a receber de outros envolvidos no esquema, um deles Antonio Joaquim Mendes da Mota, o “Motinha”.
Alvo de mandados de prisão em três operações da Polícia Federal, “Motinha” segue foragido. Em duas oportunidades, ele escapou do cerco da PF fugindo de helicóptero.
“Sem mencionar a possível ilicitude no recebimento de cada um destes rendimentos, ainda que Marcel e família (esposa e dois filhos) não tivessem qualquer despesa ao longo dos meses, seriam necessários mais de 100 anos para que se atingisse o montante de R$ 115 milhões. Se é impossível matematicamente a obtenção de uma fortuna estimada em 100 milhões de reais a partir de patrimônio totalmente bloqueado judicialmente, como se explicaria a obtenção de tantos bens por Marcel Martins e sua família?”, diz trecho da denúncia do MPF.
Conforme a investigação, a explicação parece óbvia: grande parte do patrimônio já pertencia a Marcel quando foi deflagrada a Operação Enigma, “não tendo sido abarcada pela ordem de bloqueio por estar oculta em nome de terceiros”.
Ainda segundo a denúncia, as investigações mostraram que Marcel e Valter Ulisses continuaram obtendo proventos das atividades de tráfico de drogas e incluindo a renda ao patrimônio da família.
No final do mês passado, a juíza substituta da 5ª Vara Federal em Campo Grande, Franscielle Martins Gomes Medeiros, rejeitou a denúncia contra os irmãos Marcel e Valter por tráfico de drogas, mas os tornou réus por lavagem de dinheiro e organização criminosa. Evelyn Martins e outros 11 investigados também são réus no mesmo processo.