Suspeitos residentes em Mato Grosso do Sul e outros 16 estados brasileiros estão na mira da Operação Hades, desencadeada hoje (1º) pela Secretaria Estadual de Segurança Pública de Alagoas para prender membros de duas organizações criminosas envolvidas em tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
A ação é resultado de investigações da Polícia Civil de Alagoas, iniciadas em março de 2021, visando desmantelar esses grupos que atuam no tráfico de drogas em larga escala, tendo sido expedidos 79 mandados de prisão e 228 de busca e apreensão.
Em âmbito nacional , a operação cumpre 307 mandados contra organizações criminosas responsáveis pelo tráfico de drogas e lavagem de capitais, compreendendo 79 mandados de prisão e 228 de busca e apreensão em Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina e São Paulo.
Em Mato Grosso do Sul, a ação contou com a coordenação do Dracco da Polícia Civil, para cumprir 36 mandados, resultando na prisão de 15 pessoas, sendo 14 por mandados de prisão e uma autuação em flagrante.
Foram apreendidos veículos, armas, jóias, dinheiro em espécie e drogas através das equipes do Dracco, da 1DP, 3DP e 5DP de Campo Grande, Decon, Defurv, Defron, 1DP Ponta Porã, SIG Três Lagoas, DP Paranhos, 1 DP Fátima do Sul, DP Ladário , 1DP Jardim e 1DP Corumbá.
A operação foi denominada de Hades em referência ao deus da mitologia grega, também chamado de deus da riqueza. Além de seu grande poder, o ser mitológico possuía todos os metais preciosos do planeta.
Na mitologia grega, Hades foi descrito como um deus impiedoso, intimidativo e insensível às preces e sacrifícios, pois o seu objetivo era punir as almas pelo que as pessoas fizeram em vida. Esses atributos coincidem com características dos líderes das organizações criminosas desarticuladas. Mesmo com todo o poder alcançado, Hades também era tido como o deus dos mortos, dono do mundo inferior, onde só habitavam as almas de pessoas ruins, o que também acaba acontecendo com as pessoas que entram no mundo do crime.
Como as organizações atuavam
As investigações identificaram dois casais, um deles alagoano e outro paraense, que eram responsáveis pelo tráfico de drogas em larga escala em Alagoas. A partir disso, o trabalho conseguiu identificar ramificações nos 17 estados alvos da operação.
À medida que houve progresso nas investigações, foi possível identificar também os criminosos que atuavam na origem do tráfico como fornecedores e as pessoas que como atuavam como fornecedores de drogas para os líderes das duas organizações criminosas investigadas.
Segundo a investigação, os dois casais fazem parte da cúpula de duas grandes organizações criminosas que atuam no Rio de Janeiro e no Estado do Pará.
A organização criminosa que era liderada por um alagoano atuava principalmente em Maceió, no bairro da Levada e adjacências. Porém, ele também realizava a distribuição de drogas para outros municípios de Alagoas onde há predominância da facção criminosa que o indivíduo integra.
Também ficou constatado ao longo da investigação que os fornecedores dessa droga que abastecia o mercado alagoano eram do estado de São Paulo. Eles recebiam as drogas de Mato Grosso do Sul, estado que faz fronteira com Paraguai e Bolívia, que são grandes produtores de drogas.
Já a segunda organização criminosa alvo da operação de hoje, era liderada por um homem natural do Pará, mas que morou muito tempo em Alagoas. Por conta desse laço pessoal com o estado, ele estabeleceu o comando do tráfico de drogas em bairros da área nobre da cidade, como Ponta Verde, Jatiúca, Pajuçara, Mangabeiras e Jacarecica. Esse indivíduo também estava à frente de atividades ilícitas no Pará.
A droga que era vendida por este grupo criminoso tinha como origem fornecedores do estado do Amazonas, que faz fronteira com a Colômbia e o Peru, primeiro e segundo maiores produtores de cocaína do mundo, respectivamente.
Vida de luxo
Apesar das duas organizações criminosas atuarem de forma independente, ambas tinham pontos em comum, como membros que pertenciam às mesmas facções criminosas de âmbito nacional e um esquema muito sofisticado de lavagem dinheiro.
A investigação conseguiu detectar que os dois grupos utilizavam esquemas de lavagem de capitais, com a utilização de empresas de vários segmentos, como peixarias, de aluguel de veículos, de manutenção de automotores, depósitos de bebidas, de transportes de cargas, dentre outras. Além disso, ficou comprovado o uso frequente de contas bancárias de pessoas próximas e outras identificadas como laranjas, a fim de movimentar grandes quantias de dinheiro de forma ilegal.
Nesse contexto, foram verificadas movimentações financeiras de mais de R$300 milhões de reais em contas bancárias, que foram analisadas ao longo da investigação. Muitos dos membros das duas organizações criminosas investigadas ostentavam um elevado padrão de vida, com viagens, também utilizavam veículos e outros bens de luxo, além de possuírem residências e apartamentos em condomínios de alto padrão.
É importante destacar que boa parte dos alvos da operação possui antecedentes criminais, inclusive, por crimes da mesma natureza dos que são objeto nesta operação. Muitos deles possuem processos em aberto na Justiça Federal. Alguns dos investigados também têm mandados de prisão em aberto pela prática de outros delitos.