O médico Gabriel Paschoal Rossi, 29, assassinado na semana passada em Dourados, integrava quadrilha de estelionato envolvendo cartões de crédito e saque de aposentadoria de pessoas falecidas. Foi morto porque cobrava sua parte e ameaçou denunciar o esquema. Torturado, estrangulado e ferido no pescoço com objeto pontiagudo, ele agonizou por pelo menos 48 horas antes de morrer.
A morte teria sido tramada por Bruna Nathalia de Paiva, 28, apontada como “cabeça” do esquema golpista e amiga pessoal de Gabriel. Através dessa amizade, ela teria convidado o rapaz para fazer parte dos golpes quando ele ainda estudava medicina.
Bruna foi presa ontem de manhã por policiais civis e policiais rodoviários federais de Dourados em Pará de Minas (MG) junto com os três autores materiais do crime, Gustavo Kenedi Teixeira, 26, Keven Rangel Barbosa, 21, e Guilherme Augusto Santana, 34.
Os quatro foram trazidos para Dourados, onde chegaram na madrugada de hoje sob forte esquema de segurança. Todos ainda serão formalmente interrogados sobre o assassinato.
Em entrevista coletiva nesta manhã para falar sobre o caso, o delegado Erasmo Cubas, chefe do SIG (Setor de Investigações Gerais), disse que Gabriel Rossi estava pressionando Bruna para receber em torno de meio milhão de reais – sua parte nos golpes. O delegado regional Adilson Stiguivitis e o inspetor-chefe da PRF em Dourados Waldir Brasil também participaram da entrevista.
Segundo a polícia, Gabriel teria até mandado uma carta a Bruna, ameaçando denunciar o esquema à polícia se não recebesse o dinheiro.
Para se livrar do comparsa e não pagar a dívida cobrada por Gabriel, a mulher tramou o crime e contratou os outros três envolvidos. Além de matar o médico, a ideia era usar o celular dele para acessar contas bancárias e tentar arrancar dinheiro de amigos e parentes.
Bruna então contratou Gustavo, Keven e Guilherme para praticarem o assassinato. Além de despesas, ela pagaria R$ 50 mil a cada um deles.
Através de aplicativo, ela locou duas casas de temporada em Dourados, uma na Rua Monte Alegre, por 24 horas, e outra na Rua Clemente Rojas, na Vila Hilda, por 15 dias.
Os quatro vieram de ônibus de Belo Horizonte para Mato Grosso do Sul. Foram a Ponta Porã onde compraram aparelho de choque usado na tortura e se hospedaram na casa na Rua Monte Alegre. Para atrair Gabriel até a casa na Vila Hilda, os homens se passaram por compradores de droga e o médico iria indicar fornecedores da fronteira.
Quando chegou na casa na Vila Hilda com seu carro HB20 prata, Gabriel Rossi foi dominado pelos três homens e submetido à sessão de tortura. Bruna de Paiva permaneceu na casa da Monte Alegre. “Ela nem foi no local do crime, mas a ordem era clara: era para matar o Gabriel”, afirmou Cubas. Segundo ele, o médico foi torturado porque Bruna também queria as senhas do celular e de contas bancárias.
A casa na Vila Hilda foi alugada por 15 dias porque a ideia era deixar o local fechado com o corpo de Gabriel durante período suficiente para que pudessem continuar usando o celular dele e “limpar” as contas bancárias e cartões do médico.
Segundo a polícia, foi Bruna de Paiva que usou o celular de Gabriel para conversar com amigos e até parentes do rapaz. Também foi ela que arquitetou a trama sobre supostas ameaças feitas contra o médico por envolvimento com mulheres comprometidas. Como eram amigos, ela sabia detalhes da vida pessoal de Gabriel Rossi.
A investigação da Polícia Civil também comprovou a data exata do desaparecimento. Segundo o delegado, Gabriel Rossi foi atraído até a casa na Vila Hilda e sequestrado na quinta-feira (27), logo após deixar o plantão em uma das unidades de saúde em que trabalhava.
No mesmo dia, após torturarem o rapaz e o deixarem agonizando, Gustavo, Keven e Guilherme voltaram para a casa na Rua Monte Alegre e de lá, junto com Bruna, seguiram para Campo Grande, onde embarcaram em voo para Belo Horizonte. No domingo (30), a polícia conseguiu identificar que o celular do médico havia sido usado em Minas Gerais.
Como já tinham apurado que Gabriel mantinha contato com Bruna de Paiva, os investigadores conseguiram descobrir que ela havia viajado de ônibus para Mato Grosso do Sul. No mesmo ônibus estavam os outros três mineiros. Imagens de câmeras próximas dos locais onde o grupo ficou em Dourados ajudaram a polícia a identificar os acusados. Ainda hoje, eles serão ouvidos. Bruna será a última a prestar depoimento.
Conforme o delegado, o laudo da autopsia apontou que a morte de Gabriel tenha ocorrido no máximo quatro dias antes de o corpo ser encontrado. Como o desaparecimento ocorreu na quinta-feira (27), a hipótese é de que ele tenha permanecido vivo, agonizando, por pelo menos 48 horas antes de morrer. “O estado do corpo não era de uma semana da morte”, disse Erasmo Cubas.
Crédito: Campo Grande News