O juiz Deyvis Ecco, da 2ª Vara Criminal, decretou a prisão preventiva do cabeleireiro Alessandro Soares, 47, e da mulher dele, Francielle Ketelyn de Almeida, 26, acusados de usar documentos falsos da Caixa Econômica Federal para aplicar golpes milionários em empresários e produtores rurais.
O casal foi preso em flagrante nesta segunda-feira (2) em Dourados, minutos após prometer obter empréstimo de R$ 59 milhões para empresário da cidade.
Atraído pela promessa de juro de 5,7% ao ano e sem exigência de garantia, o empresário se dirigia ao banco para transferir R$ 110 mil para a conta de Alessandro quando foi abordado por policiais civis e informado que estava prestes a cair num golpe.
Alessandro e Francielle já estavam sendo investigados por equipes da 1ª Delegacia de Polícia e do SIG (Setor de Investigações Gerais) após outros golpes aplicados na região.
Durante audiência de custódia no início da tarde de hoje, o magistrado homologou o flagrante e decretou a preventiva do casal. Para tomar a medida, Deyvis Ecco citou que o casal já esteve envolvido em pelo menos dez situações anteriores sobre estelionato e responde a duas ações penais pelo mesmo crime.
“Observo que os autuados, em tese, valendo-se da afirmação de que possuem vínculo com a Caixa Econômica Federal, procuraram potenciais ‘clientes’ para lhes oferecer linhas de crédito com juros atrativos, sendo que, para ‘fechar’ negócio e dar início aos trâmites, era necessário pagar determinada quantia em dinheiro”, citou o juiz.
O golpe foi descoberto após alguns “clientes” do casal procurarem a Caixa para saber sobre o financiamento. Ciente de que se tratavam de golpistas, o gerente local avisou a polícia.
“Com a prisão em flagrante, houve apreensão de documentos. Confrontados perante uma empregada da CEF, foi dito que a cédula bancária é falsa e que a linha de crédito oferecida não existe perante a instituição financeira. O casal já esteve envolvido em situações anteriores envolvendo o crime de estelionato. Desta forma, a reiteração criminosa revela a necessidade da decretação da prisão preventiva”, afirmou Deyvis Ecco.
Golpes milionários
Segundo a Polícia Civil, Alessandro e Fracielle se passavam por correspondentes bancários da Caixa e aplicaram golpes em quantias milionárias na região de Dourados.
Com eles, foram encontradas diversas cédulas de crédito bancário falsificadas, totalizando cifras de mais de R$ 2 bilhões. Uma das cédulas falsificadas tinha valor superior a R$ 498 milhões. Outra possuía grafada a cifra de R$ 300 milhões.
“Os estelionatários ofereciam financiamentos nesses valores milionários se passando por correspondentes da Caixa Econômica Federal e exigiam para a realização do financiamento quantias de 100 mil a 200 mil reais. Outras diversas vítimas já haviam caído nos golpes”, afirmou a polícia.
Após as vítimas transferirem o dinheiro, os estelionatários afirmavam que não seria possível concluir os financiamentos alegando os mais variados motivos, como instabilidade no sistema bancário ou mudança de política do banco.
“Tudo legal”
Em depoimento na delegacia, os dois mantiveram a versão de que as transações eram legais e negaram cobranças indevidas. Alessandro afirmou que trabalha com financiamentos desde maio de 2022 e sua esposa é amiga da filha “dos diretores da Caixa”. Segundo ele, como ela possui especialização na área, essa amiga passou “algumas propostas” para que Francielle ajustasse os projetos.
Afirmou que Francielle teria recebido 47 projetos de pessoa de dentro da Caixa e que a mulher, após treinamento, começou a fazer os projetos de forma autônoma. Até junho deste ano, ela teria feito oito projetos, cobrando valor de R$ 110 mil por projeto.
Sobre as cédulas de crédito apreendidas na casa, Alessandro afirmou que são fornecidas pela Caixa Econômica através de um link. Em relação aos projetos que teriam sido feitos pela mulher, alegou que o funcionário da Caixa com quem mantinha contato teria se apropriado do dinheiro. Ele citou o nome do suposto funcionário, que vai ser investigado. Entretanto, a polícia acredita que essa pessoa não existe.
Francielle também manteve a versão de que todas as operações eram legais. Afirmou ser projetista habilitada em financiamento e que o valor cobrado do empresário (R$ 110 mil) era referente à elaboração do suposto projeto. Ela afirmou não saber se seus outros “clientes” receberam os supostos financiamentos.
Outras vítimas
Segundo o delegado Demerval Neto, da 1ª DP, após a prisão do casal, várias outras vítimas já procuraram a delegacia para denunciar os golpes. Ele afirmou que o esquema envolvia principalmente supostos empréstimos para o agronegócio.
“Os estelionatários se passavam por correspondentes da Caixa, mas desde o início ficou constatado que era fraude. Os documentos eram todos falsos e o dinheiro do suposto empréstimo nunca era repassado aos clientes”, explicou.
Conforme o delegado, entre as vítimas está um empreendedor do agronegócio que perdeu R$ 200 mil. Além disso, acumulou prejuízo de milhões de reais, pois fez compromisso contando com o suposto empréstimo.
Na casa onde Alessandro e Franciele foram presos, no BNH 3º Plano, a Polícia Civil apreendeu um utilitário esportivo Jaguar E-Pace P300, ano 2018, avaliado em pelo menos R$ 500 mil. O casal afirmou que o veículo foi trocado com uma caminhonete Ford Ranger que tinha anteriormente e a diferença paga através de financiamento. O Jaguar foi apreendido.
A Polícia Civil mantém as investigações para descobrir outras vítimas e identificar a extensão dos golpes. Segundo o delegado, até agora, pelo menos dez vítimas já foram identificadas.
Crédito: Campo Grande News