O comandante da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada de Dourados, general de brigada Abelardo Prisco de Souza Neto, se reuniu com veículos de imprensa no quartel do Exército na manhã de hoje (9). Com ele estavam o porta-voz de comunicação da Brigada, Major Ricardo Ribeiro de Mello, e o chefe do Estado Maior, tenente-coronel Hélio Ricardo Bezerra Sampaio. A investigação, a partir de hoje, passa a ser conduzida em Dourados (lia abaixo).
Foram autorizadas fotos e imagens do início da reunião somente e o encontro não pode ser gravado. O comandante relatou a assistência ao recruta Vinícius Ibañez Riquelme, 19, a partir do primeiro atendimento recebido no posto dentro do 10º Regimento de Bela Vista, e para a família dele. O recruta morreu no dia 27 de abril e a causa da morte ainda não foi esclarecida.
Prisco relatou que o coronel Kenji Alexandre Nakamura, que comanda o Regimento de Bela Vista, ficou o tempo todo junto com a mãe de Vinicius, inclusive seguindo viagem com ela quando o rapaz foi transferido para a Santa Casa de Campo Grande.
O oficial também alega que após o caso do Vinicius e também os demais que foram surgindo, todos os militares que participaram do mesmo exercício e as famílias foram informados para que procurassem atendimento médico em caso de sintomas de Influenza.
Também foi dada assistência para os que precisaram ser atendidos, seja no posto de saúde do regimento ou em unidades externas ou hospital. Ainda foram colocadas equipes com ambulâncias de prontidão.
O general informou que foi montado gabinete de gerenciamento de crise para tratar sobre o caso após a morte de Vinicius e depois de outros recrutas apresentarem sintomas. Todas as famílias dos recrutas foram orientadas a buscar atendimento em caso de qualquer sintoma de problema respiratório.
Segundo o comandante da Brigada, participaram do treinamento 209 militares, sendo 39 instrutores e 170 recrutas. Desse total de 170 recrutas, 89 apresentaram sintomas de doenças respiratórias. Dos 89, 28 precisaram ficar internados, sendo que 26 ficaram internados em unidades de saúde militares. Um foi internado no Cassems e um no Hospital de Bela Vista. Dos 26 que ficaram em unidades militares, três chegaram a ficar na UTI.
Os 28 que ficaram internados foram testados para dengue, covid-19 e influenza. Em 8 casos foram confirmados casos de influenza. Os demais que não foram internados não foram testados porque não havia necessidade clínica para teste.
Teve um caso suspeito de dengue, mas foi descartado. Nenhum caso foi de covid-19. Diante disso, com quase 30% dos testados com influenza, eles acreditam que houve um surto de influenza na unidade. Os oficiais consideram agora o fim da crise sanitária, porque os 28 estão de alta, não há mais internados.
Inquérito
Conforme o general Prisco, no alistamento, antes da entrada no Exército, todo recruta passa por inspeções médicas de saúde, odontológica e entrevista para saber se tem condições de participar das atividades militares. Depois de oito a dez semanas da incorporação, o recruta passa pelo exercício do qual Vinicius participou. O dele começou no dia 22 e terminou dia 26 (sexta-feira). Esse exercício de recruta é padronizado em todo o Brasil, com normas regulamentadas e tem médicos 24 horas à disposição.
Segundo o Exército, Vinicius não se sentiu bem na sexta-feira pela manhã e pediu para ser atendido no posto médico. Foi transferido par ao hospital de Bela Vista, onde o quadro piorou. Ele foi levado para a Santa Casa de Campo Grande, onde morreu no sábado, dia 27, pouco antes das 7h.
Investigação agora em Dourados
Procedimento administrativo foi aberto no Regimento de Bela Vista para apurar o caso. Mas, por decisão do comando da Brigada, foi encerrado e deve ser reinstaurado ainda hoje (9), mas agora com a investigação sendo conduzida pelo comando da 4ª Brigada em Dourados.
O comando alega que não houve qualquer problema ou interferência no Regimento, essa mudança seria apenas para garantir mais transparência ao processo e permitir que os recrutas que por ventura tenham presenciado alguma transgressão possam relatar.
Segundo o general, e procedimento administrativo se trata de uma sindicância, para apurar se houve algum tipo de transgressão, falta de conduta ou excesso por parte de militares. Na prática, avalia se os militares cumpriram o padrão seguido pelo Exército para o treinamento.
O procedimento administrativo vai apurar se os instrutores cometeram abusos contra os recrutas, se impediram acesso à água e de procurar atendimento médico. O prazo para conclusão desse procedimento é de 30 dias.
Paralelo a esse procedimento, continua em andamento o Inquérito Policial Militar instaurado no dia 29 de abril e que investiga especificamente as circunstâncias da morte de Vinicius.
O inquérito tem prazo de 40 dias para ser concluído, ou seja, em meados de junho, sendo que pode ser prorrogado caso o Ministério Público peça mais diligências. É nesse inquérito também que deve ser anexado o laudo necroscópico do corpo de Vinicius. Segundo o comandante, devem ser ouvidas tanto testemunhas civis quanto militares.
Afastamento
Na manhã desta quinta-feira, advogados do grupo “Juristas pela Democracia-MS” protocolaram pedido de afastamento do comandante responsável pelo 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado, em Bela Vista. O documento foi entregue na Seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Mato Grosso do Sul, na Capital.
A morte de Vinicius fez com que mães de outros recrutas da unidade procurassem grupos de advogados para denunciar práticas de tortura na unidade do Exército.
(Com informações de Fabiane Dorta)