Denunciada por tortura em creche clandestina, Caroline Florenciano dos Reis Rech, de 30 anos, ficou completamente transtornada após a prisão. Na delegacia, conforme registro policial, a dona da “escolinha” se alterou bastante durante o tempo que passou na DCAM (Delegacia de Atendimento à Mulher) de Naviraí, que investiga os crimes.
Consta no auto de prisão em flagrante que ao ser informada do direito de permanecer em silêncio e quais eram os termos das acusações feitas contra ela, a mulher começou a gritar. Dizia que não falaria nada, que tudo que havia sido presenciado pelos policiais por meio das câmeras escondidas era verdade e que ela “errou”, mas que nunca havia dopado crianças ou mandado que a funcionária, Mariana de Araújo Correia, 26, desse algum remédio para os meninos ou meninas de quem cuidava.
Ainda na delegacia, Caroline ameaçou tirar a própria vida, porque se fosse solta ou para presídio, estaria “ferrada”. Depois da crise, decidiu dar sua versão sobre os fatos.
A dona da creche foi interrogada na companhia do advogado Mauro José Gutierre. Admitiu que não tem graduação na área de educação ou pedagogia e ainda que o local, onde “matriculou” 36 crianças desde janeiro deste ano, não tinha alvará para funcionar como estabelecimento educacional. À delegada Sayara Baetz, ela afirmou que para ser babá não precisa de formação.
Contou que começou a cuidar de 22 crianças em casa, há quatro anos e, em janeiro, decidiu montar o “Cantinho da Tia Carol” em prédio alugado, no Bairro Sol Nascente, em Naviraí. Garantiu ainda que nesses quatro anos nunca teve problemas, mas que tudo mudou na sexta-feira passada, dia 7, quando um dos garotinhos que cuida, de 2 anos, quebrou a televisão da creche.
“Eu estava nervosa porque precisei comprar outra televisão”. Caroline disse também que a menininha que apanhou dela diante das câmeras “dá muito trabalho” e “não para quieta”.
Delegados e investigadores de Naviraí viram e ouviram, ao vivo, a bebê de 11 meses sofrendo agressões físicas e psicológicas na segunda-feira, dia 10, quando começaram monitoramento à distância usando equipamentos de filmagem escondidos instalados no estabelecimento com autorização judicial. Além disso, assistiram à menina ser dopada. Diante da violência e risco que crianças corriam nas mãos de Caroline, a equipe da Polícia Civil decidiu invadir a creche e prendeu as duas adultas que estavam no local.
De acordo com o registro policial, “logo no início da operação, às 10h35, a investigada Caroline agrediu fisicamente uma bebê, posteriormente identificada como menina* de 11 meses”. Segundo a descrição, pelo monitoramento em tempo real, foi possível ver que a criança estava em um colchão no chão, sozinha, e havia saído do local, momento que a cuidadora pega a pequena e joga de volta no acolchoado.
“Foi perceptível a violência empregada por Caroline, bem como a intenção de castigar a pequena criança em virtude do choro”, anotou a delegada Sayara Baetz, que redigiu o documento.
Treze minutos depois, a garotinha voltou a chorar e, então, apanhou. Como o equipamento instalado no “Cantinho da Tia Carol” captava imagem e áudio, conforme registrado, a investigada xingou a criança de “sem vergonha” e comentou com a funcionária que quando a menina começasse a andar, “estavam lascadas”.
A bebê continuou chorando sozinha, mas logo parou. Neste momento, equipe da DAM foi enviada para ficar de prontidão próximo à creche caso fosse necessária intervenção rápida.
Os policiais que permaneceram na delegacia perceberam que as imagens não estavam sendo gravadas e diante da necessidade da coleta de provas, técnicos foram chamados para resolver a questão.
Quem assistia à câmera começou a estranhar que a menininha estava há muito tempo parada, não tentava se levantar do colchão, engatinhar ou se arrastar, parecendo estar dopada. Às 12h45, a funcionária de Caroline foi vista dando remédio para a neném, que logo dormiu.
A equipe do monitoramento notou ainda que as duas mulheres ficavam o tempo todo sentadas, mexendo no celular, sem olhar para as outras crianças no ambiente. Mesmo constatando que boa parte das cenas não haviam sido gravadas, policiais decidiram invadir o local e prender a dupla.
Sobre os episódios de violência testemunhados por policiais, no depoimento, Caroline disse: “Só coloquei ela deitada à força e dei uns tapinhas na cabeça para ela dormir”. Disse que não viu Mariane dar remédio à criança e que logo cedo deu nove gotas de paracetamol para a bebê, a pedido da família. Por isso, a garotinha estava sonolenta.
Admitiu que tinha Dramavit – remédio para enjoo, vômito e tontura, mas que tem efeito sedativo – na creche, mas alega que era de uso pessoal, porque sofre de labirintite. Afirmou ainda que tem as fichas de todas as crianças, contendo anotações dos medicamentos que devem ser ministrados a pedido dos pais, e que os registros serão entregues no momento oportuno por seu advogado.
A investigação começou quando mãe de “ex-aluno” procurou a polícia denunciando agressões sofridas pelo filho na creche. Há relato de criança que teve a cabeça arremessada contra sofá e pano colocado na boca para “engolir” o choro. Caroline nega.
O advogado da dona da “escolinha”, Mauro José Gutierre, enviou texto assinado pela cliente à reportagem que diz: "os fatos não deram da forma como estão sendo divulgados e propagados nas redes sociais". Veja a nota na íntegra:
Crédito: Campo Grande News