Uma organização criminosa de Corumbá foi denunciada à Justiça Federal por usar estabelecimentos comerciais de pequeno porte para lavar uma fortuna supostamente proveniente do tráfico internacional de drogas. Um mercadinho movimentou R$ 63 milhões, sendo a maior parte proveniente do cartão de crédito.
O outro negócio rocambolesco era uma conveniência de Corumbá, que faturou R$ 23 milhões e vendia até para clientes de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais localizada a 1.600 quilômetros de distância.
O esquema criminoso foi desvendado na Operação Mamon, deflagrada pela Polícia Federal, e denunciado pelo Ministério Público Federal. De acordo com o MPF, desde 2017, o grupo teria movimentado R$ 80 milhões em Corumbá, na fronteira com a Bolívia, e uma das principais rotas do tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul.
“A organização criminosa se caracterizava pela estrutura familiar. As investigações detectaram dois líderes: Ale Tahir Della e Ioneide Nogueira Martins, conhecido como ‘Paraná’. Ambos não registravam bens em seus nomes e não movimentavam valores em contas bancárias de sua titularidade. Para isso se utilizavam de sobrinhos, irmãos ou dos próprios filhos, que também atuavam, em conjunto com outros integrantes do grupo, como ‘laranjas’ em empresas de fachada que lavavam os recursos oriundos do tráfico”, destacou a procuradoria, em nota à imprensa.
O principal meio para ocultar a fortuna era a utilização de cartões de crédito para efetuar compras fantasiosas, de forma a aparente o negócio de grande movimentado de compra e venda. No entanto, o local possuía pequeno fluxo de clientes.
“Com esse mecanismo, havia uma troca de recursos ilícitos, os quais eram utilizados para efetuar os pagamentos das faturas dos cartões, por recursos lícitos, creditados pela operadora de crédito”, explicou.
Em um dos estabelecimentos investigados, cerca de 90% do faturamento vinha de cartões de crédito dos próprios integrantes da família. Um deles detinha consigo uma máquina de cartão de crédito na cidade de Belo Horizonte (MG), por meio da qual efetuava compras na loja de conveniência localizada em Corumbá, a mais de 1.600 quilômetros de distância.
O grupo também mantinha relações financeiras com pessoas de fora da rede familiar, muitas delas investigadas, processadas ou condenadas por tráfico, dentre outros crimes. Uma apreensão de cheques em uma das empresas investigadas revelou transação em valor superior a R$ 7 milhões, em cheques emitidos por mais de 600 pessoas distintas, várias delas com antecedentes criminais por tráfico de drogas, contrabando, receptação, lavagem de dinheiro, entre outros, o que demonstra a relação íntima dos denunciados com o cenário da criminalidade.
Com os valores auferidos com as práticas, os integrantes da organização criminosa constituíram um patrimônio incompatível com o perfil dos negócios de fachada que detinham, adquirindo veículos de luxo e um imóvel de alto padrão avaliado em quase R$ 2 milhões.
“A existência de fontes de rendas lícitas é desconhecida para a maioria dos envolvidos e, nos raros casos em que é conhecida, registra valores pífios comparados às movimentações financeiras apuradas”, aponta a denúncia do MPF.
Investigações conduzidas pelo MPF e pela Polícia Federal analisaram extratos bancários, faturas de cartão de crédito, além de relatórios de inteligência financeira que, considerados em conjunto com as mensagens apreendidas nos telefones celulares dos investigados, evidenciaram os indícios das relações criminosas entre os integrantes da organização. Nas mensagens há, ainda, tratativas dos denunciados sobre formas de receber e enviar dinheiro para a Bolívia, evidenciando a prática de evasão de divisas por meio de câmbio ilegal.
“As investigações apontaram que a organização criminosa era composta por acusados pertencentes a duas famílias. A família Della é capitaneada por Ale Tahir Della, que empreendia seus dois filhos, Matheus Prado Della e Allex Prado Della, no esquema”, pontuou a assessoria.
“Já a família Martins tem como líder Ioneide Nogueira Martins, o ‘Paraná’, que se associou com os irmãos, Ademilson Dias Bezerra, conhecido como ‘Paranazinho’, e Maria Lúcia Martins, e ainda com o sobrinho, Lukas Martins Nogueira, e a cunhada, Mayara Pinho Tucan”, informou.
“Além deles, as investigações alcançaram Luciano Cestari e Guilherme Regenold Neto, que são acusados de emprestarem seus estabelecimentos comerciais para a lavagem de capitais em troca de benefícios em bens ou espécie”, concluiu.
O processo tramita em sigilo na Justiça Federal de Corumbá.