O empresário douradense Hermógenes Aparecido Mendes Filho, 49, é apontado pela Polícia Federal como sucessor de Jorge Teófilo Gonçalves Samudio, o “Samura”, um dos principais líderes da facção criminosa Comando Vermelho no Paraguai.
Preso em outubro de 2018, quando controlava importantes rotas do tráfico de drogas na fronteira com Mato Grosso do Sul, “Samura” foi resgatado pela facção em setembro do ano seguinte e recapturado em Sinop (MT), em abril de 2021. Após ser preso em território brasileiro, “Samura” teria repassado o comando da organização para Aparecido Mendes.
A estreita ligação entre Aparecido Mendes e Jorge Samúdio é citada na denúncia oferecida pelo MPF (Ministério Público Federal) no âmbito da Operação Sanctus, deflagrada pela Polícia Federal no dia 8 de dezembro do ano passado.
No dia 18 deste mês, Aparecido e outras oito pessoas, entre elas o irmão dele Ronaldo Mendes Nunes, 40, que segue foragido, foram denunciados por organização criminosa internacional, tráfico internacional de drogas e associação para o tráfico, uso de documentos falsos e lavagem de dinheiro. O caso tramita em sigilo na 3ª Vara Federal em Campo Grande.
Escondido em MT
Segundo a investigação da PF, no período em que esteve foragido em território brasileiro, Samura, usando nomes falsos de “Fernando Delosanto Ortelhado” e “Fernando Delosanto de Souza”, recebeu apoio dos irmãos Mendes para se esconder nas duas fazendas de Aparecido, a Beira Rio em Feliz Natal (MT) e a São Pedro, em Paranatinga (MT).
Monitoramento das equipes de campo da PF revelou que, em território mato-grossense, Jorge Samúdio utilizava uma caminhonete registrada em nome da empresa Mendes & Piris, pertencente a Aparecido Mendes e à esposa dele.
Em Mato Grosso, Samura circulava na companhia de Wuilhan Rojas, 38, o “Zóio”, administrador das duas fazendas de Aparecido. Dono de extensa ficha criminal, Wuilhan também está preso e faz parte da lista dos denunciados pelo MPF.
A Polícia Federal também descobriu que Jorge Samúdio usou uma das casas de Aparecido Mendes, localizada no Jardim Terra Roxa, em Dourados, como endereço informado a órgãos públicos. O mesmo endereço foi usado também por outros envolvidos no tráfico de drogas, entre eles motoristas de caminhões usados para levar cocaína da fronteira com o Paraguai para São Paulo e Rio de Janeiro.
Deputado paraguaio
O organograma montado pela PF sobre a organização dos irmãos Mendes inclui a participação do deputado nacional do Paraguai Eulálio Gomez Batista, o “Dom Lalo”, e do filho dele, Alexandre Rodrigues Gomez, o “Ale Gomez”.
A denúncia do MPF cita que Dom Lalo foi responsável direto em viabilizar a fuga de Ronaldo Mendes Nunes, em dezembro passado. A história já havia sido revelada pelo Campo Grande News no dia 30 de janeiro.
No dia em que a PF deflagrou a Operação Sanctus em território brasileiro, equipes da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) cercaram o imóvel onde Ronaldo estava, em Pedro Juan Caballero, para cumprir o mandado de prisão expedido pela Justiça Federal brasileira.
Entretanto, a operação teria sido informada a Dom Lalo por integrantes da alta cúpula da Senad. O político paraguaio teria usado o próprio veículo para dar fuga a Ronaldo Mendes Nunes.
Ao ser abordado pelos agentes da Senad transportando o fugitivo, Eulalio Gomez teria alegado imunidade parlamentar para impedir revista no veículo. Ronaldo segue foragido.
Alexandre Gomez, filho de Dom Lalo, é apontado em levantamento preliminar da PF como um dos principais narcotraficantes a serviço do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Segundo a polícia, Ale Gomez mantinha ligações com outros importantes traficantes da fronteira, entre eles Caio Bernasconi Braga (preso em março de 2023), Antonio Joaquim da Mota (preso no mês passado) e Marcio Ariel Gimenez, o “Aguacate”, executado em junho do ano passado em Pedro Juan Caballero.
Jorge Samúdio está recolhido no sistema penitenciário federal brasileiro. Aparecido Mendes segue preso no sistema estadual, em Campo Grande. Ronaldo Gomes está foragido, supostamente escondido em território paraguaio. Até agora, Lalo Gomez não se manifestou sobre as denúncias de que teria atuado para impedir a prisão do traficante sul-mato-grossense.
(Crédito: Campo Grande News)