Quase dois meses após a Operação Sanctus, deflagrada no dia 8 de dezembro pela Polícia Federal brasileira, o Ministério Público do Paraguai confirmou suspeita de ligação do traficante brasileiro Ronaldo Mendes Nunes, 40, com o deputado paraguaio Eulalio Gómez, o “Lalo”, do Partido Colorado.
Ronaldo e o irmão, Hermógenes Aparecido Mendes Filho, 49, donos de empresas em Dourados e Ponta Porã, são apontados pela PF como chefes de poderoso esquema de tráfico de cocaína da fronteira para o Rio de Janeiro e de ligação com o Comando Vermelho. Aparecido está preso.
Na terça-feira (30), o Campo Grande News relevou suspeita da Polícia Federal de que um político paraguaio ajudou Ronaldo a escapar das equipes da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) que tentaram prendê-lo, no dia 8 de dezembro.
Hoje, em entrevista à rádio ABC Cardinal, o promotor de Justiça Celso Morales confirmou que no dia da operação, agentes especiais da Senad estiveram na Agropecuária Salto Diamante, em Pedro Juan Caballero, para procurar Ronaldo Mendes. Lalo Gómez é o principal acionista da empresa.
O serviço de inteligência da PF indicava que o empresário douradense estava escondido no local. Entretanto, apenas o veículo de Ronaldo foi encontrado.
“Quanto a Ronaldo Mendes Nunes, relata a autoridade policial que o investigado estava na cidade de Pedro Juan Caballero na data da deflagração, em residência já identificada pelos integrantes da Senad do Paraguai sob monitoração para captura e posterior entrega às autoridades brasileiras, ocasião em que, segundo consta, foi ‘resgatado’ nesta residência por um deputado paraguaio, supostamente envolvido com o narcotráfico internacional, que teria atuado junto à Senad para impedir a entrega de Ronaldo à Polícia Federal do Brasil”, afirma trecho da decisão da Justiça Federal que negou o relaxamento da prisão dos irmãos. O documento foi publicado segunda-feira (29) no Diário Oficial da Justiça.
Celso Morales confirmou que estava à frente das equipes que fizeram buscas na empresa de Lalo Gómez e em outros endereços em Pedro Juan Caballero, possíveis esconderijos de veículos e armas da organização criminosa.
Segundo ele, na sede da Agropecuária Salto Diamante, as equipes foram recebidas por um advogado da empresa. Sobre o carro de Ronaldo Mendes encontrado no local, o advogado alegou que ele apenas usava um espaço do estacionamento da empresa. O promotor disse desconhecer se o brasileiro estava mesmo na propriedade e conseguiu escapar antes da chegada dos policiais.
Ronaldo Mendes Nunes é dono do Audaz Restaurante, que tem unidades em Dourados e Ponta Porã. Investigação da PF revela que os restaurantes, assim como as demais empresas dos irmãos, servem apenas para lavagem de dinheiro do tráfico. Todas as empresas seriam deficitárias e não possuem nenhum funcionário com registro em carteira de trabalho.
Ligado ao ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes, Lalo Gómez é figura respeitada na linha internacional que separa Pedro Juan Caballero de Ponta Porã. Ele já foi investigado por lavagem de dinheiro naquele país, mas o processo foi arquivado. Até agora a Senad não se manifestou sobre a acusação de que o político teria interferido para impedir a prisão de Ronaldo Mendes. (Crédito: Campo Grande News)