Há cinco anos, proprietários de sitiocas sofrem invasões, ameaças e danos provocados por indígenas
Pequenos sitiantes que moram no entorno das aldeias de Dourados afirmam que há cinco anos estão “abandonados à própria sorte”, cercados e constantemente ameaçados de invasão por grupos indígenas que tentam tomar posse das terras ao lado da reserva.
“Estamos sendo chamados de bandidos, de estupradores, falam que temos jagunços, pistoleiros, que usamos drones, que colocamos fogo em moradias deles, mas são os próprios indígenas que ateiam fogo no mato, queimam a palhada da safra, ninguém aqui dorme em paz há cinco anos”, afirmou um dos sitiantes ao Campo Grande News.
A posição dos proprietários contrasta com frequentes denúncias da comunidade indígena, feitas através de ONGs que defendem a causa. Segundo a versão dos povos tradicionais, os ataques partem dos “fazendeiros”. Entretanto, quem conhece a região afirma que não há mais fazendas ali, apenas pequenos lotes.
Clima de guerra - Vídeos gravados pelos moradores mostram as constantes tentativas de invasão e a tensão existente na área, localizada ente A Avenida Guaicurus e a Aldeia Bororó, na região oeste do município.
O “clima de guerra” se arrasta desde 2018, quando, segundo os sitiantes, grupos indígenas de outras regiões de Mato Grosso do Sul se instalaram na faixa entre a aldeia e as propriedades. São 18 sitiocas, cada uma medindo 50 metros por 20, instaladas em área onde antes existia uma fazenda. Os moradores são produtores de hortifrutigranjeiros e pequenos agricultores de soja e milho.
“As lideranças das aldeias não apoiam essas invasões. Eles disparam tiros, atiram pedras, danificam veículos, atacam viaturas da Polícia Militar e até mesmo outros indígenas que trabalham com a gente”, afirmou o morador. Por medo de represália, ele pediu para não ter o nome divulgado.
Segundo outro sitiante, indígena que trabalha nos sítios foi agredido e teve a bicicleta danificada pelo grupo que cerca as propriedades. Há dezenas de casos também de prejuízo em veículos causados por pedras e flechas atiradas contra os moradores.
Nos últimos cinco anos, a área foi palco de confrontos com feridos dos dois lados. Apesar de ainda não existir perícia no local, os guaranis-kaiowás querem ocupar as terras alegando que são parte da Reserva Indígena criada em 1917. Eles alegam que as terras foram invadidas pelos sitiantes.
Entretanto, os proprietários rurais afirmam que possuem escrituras dos lotes e negam terem ocupado parte da reserva. “Na semana passada, a Polícia Federal veio aqui. Quando a polícia chega, eles recuam e correm para o mato, mas depois voltam para as terras. A gente nem pode se aproximar”, relatou outro morador.
Na Polícia Civil, os boletins de ocorrência por invasão, ameaças, danos e lesões corporais se avolumam. Os mais recentes foram registrados sábado (26).
Homem de 51 anos e a esposa dele, de 48, voltavam de uma chácara na região quando foram atacados por pelo menos 30 indígenas. Segundo as vítimas, o carro em que estavam, um Fiat Uno ano 1999, teve o para-brisa quebrado e a lataria amassada por pedradas. Relataram também que um dos integrantes do grupo chegou a disparar tiro para o alto.
Inquérito
No início deste mês, após a comunidade indígena denunciar supostos ataques contra o acampamento, inclusive com incêndio de barracos, o secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Eloy Terena, mandou ofício ao superintendente da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul Agnaldo Mendonça Alves e ao chefe da PF em Dourados, delegado Alexandre Taketomi Ferreira, pedindo investigação. A PF confirmou hoje que inquérito já foi instaurado.
Os sitiantes afirmam que são os próprios indígenas que queimam os barracos. “Eles fincam alguns galhos, colocam lona, queimam e nos acusam de queimar as casas deles, mas ninguém mora nesses barracos”, acusou morador da área de conflito.
Crédito: Campo Grande News