Federação de Futebol transferiu mais de R$ 750 mil à Invictus Sports entre fevereiro de 2019 a fevereiro de 2023
Uma das situações que mais chamou a atenção dos investigadores na denúncia contra o presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, Francisco Cezário de Oliveira, 78 anos, e mais 11 pessoas, foi um presidente de clube de Dourados que utilizou empresa no nome da irmã para receber “valores expressivos” da FFMS.
A Federação de Futebol transferiu mais de R$ 750 mil à Invictus Sports, entre fevereiro de 2019 a fevereiro de 2023. A empresa está em nome de Patrícia Gomes de Araújo, mas o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) afirma que o dono de fato é o presidente do Dourados Atlético Clube, Marco Antônio de Araújo, o Marcão, irmão da suposta empresária.
Apesar de formalmente pertencer a Patrícia, diligências do Gaeco constataram que o estabelecimento de roupas esportivas era gerido por Marcão durante todo o período de monitoramento dos agentes. Enquanto isso, a irmã dele cumpria expediente como funcionária em uma loja de lingerie.
Outro fato que corrobora com a conclusão do Ministério Público é que Marco Antônio e sua esposa são responsáveis pelas redes sociais da Invictus Sports e ambos aparecem em publicações na página da loja.
Como indício de irregularidades, o Ministério Público Estadual informa que a Invictus repassou R$ 90,8 mil a Aparecido Alves Pereira, o Cido, sobrinho de Cezário.
“Restando bem claro que se trata de devolução de valores recebidos da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, em uma espécie de desvio mascarado por uma contratação formal, que é usada para justificar a saída do dinheiro e mascarar o seu real destino, até porque, ao que parece, a maior fonte de receita da empresa é essa contratação da FFMS”, relata o Gaeco.
Com a análise do sigilo bancário dos denunciados, constatou-se que o Governo do Estado, em 9 de fevereiro de 2023, transferiu R$ 1,014 milhão para a FFMS e, no dia seguinte, a entidade repassou R$ 194,5 mil para a empresa com sede em Dourados. A transação ocorreu após Marcão dizer que havia conversado com o ex-presidente da Fundesporte e atual secretário estadual de Esporte, Marcelo Ferreira Miranda.
“Em continuidade sobre a tratativas do valor que a FUNDESPORTE teria que pagar para a Federação de Futebol, na ligação de índice 7191457, o interlocutor Marcão diz para o investigado UMBERTO ALVES, que ele teria recebido a informação do Marcelo Miranda que o pagamento ocorreria naquele dia ou no dia seguinte, que durante a conversa com Marcelo, Marcão explicou que seus jogadores já estavam com os pagamentos atrasados”, diz a denúncia.
Em depoimento ao Gaeco, Marcão afirmou ter utilizado a conta bancária da Invictus Sports para efetuar pagamentos que, na verdade, eram devidos pelo clube de futebol que preside, o Dourados Atlético Clube.
Ao ser perguntado sobre o motivo de utilizar a conta da empresa para arcar com gastos do clube de futebol, Marco Antônio respondeu: “Porque era a única conta que a gente tinha”.
O MPE diz que esta versão “é totalmente inverossímil”. Isso porque, ao contrário do alegado, a conta bancária do clube era utilizada por Marcão, conforme extrato da conta bancária do time apreendida durante a deflagração da Operação Cartão Vermelho.
Além disso, a Invictus repassou mais de R$ 90 mil a Aparecido Alves Pereira, o Cido, o que não corresponde, “nem de longe”, ao serviço supostamente por este prestado, cujos honorários giram em torno de R$ 3 mil por clube por campeonato, já que o custo individual da transferência de cada jogador era na faixa de R$ 200.
“Ou seja, o dinheiro utilizado para pagar a empresa Patrícia Gomes de Araújo LTDA (INVICTUS SPORTS), que retornava à organização criminosa, via APARECIDO ALVES PEREIRA (“CIDO”), era oriundo do Tesouro do Estado de Mato Grosso do Sul (dinheiro público)”, definiu o Gaeco.
O Gaeco denunciou o presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, Francisco Cezário de Oliveira, 78 anos, e mais 11 pessoas, inclusive quatro sobrinhos, pelo desvio de R$ 10 milhões. Eles foram denunciados pelos crimes de peculato, organização criminosa, lavagem de dinheiro, e até furto qualificado.