Macho capturado na madrugada desta quinta-feira com armadilhas pesa 94 quilos, mas está abaixo do peso, segundo especialistas
A onça-pintada capturada pela PMA (Polícia Militar Ambiental) chegou ao CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande, onde irá passar por exames e acompanhamento veterinário.
O animal, um macho de 94 quilos, foi capturado por volta de 4h desta quinta-feira (24), na região onde ocorreu o ataque ao caseiro Jorge Ávalo, 60, que foi encontrado morto na manhã de terça-feira (22), próximo ao pesqueiro Touro Morto, perto dos rios Miranda e Aquidauana, no Pantanal. Jorginho, como era conhecido, trabalhava como caseiro no pesqueiro e teve parte do corpo devorada pela onça.
“Estamos tratando de um incidente que teve uma vítima, então nesse momento todo o nosso respeito à família do Jorge. Numa atuação conjunta de o animal está sendo recepcionado no CRAS, onde ele deve ficar durante os exames, a estabilização e a recuperação. A partir daí passa a integrar o programa federal e vai ser direcionado pelo ICMBio”, afirmou o secretário-executivo da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Artur Falcette.
A ação de captura da onça ocorreu com o apoio do professor e pesquisador Gediendson Araújo, especialista em animais de grande porte – do Reprocon (Reprodução para Conservação), além do apoio do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de MS), UFMS (Universidade Federal de MS) e ICMBio.
“É um caso muito atípico, mas está muito relacionado à aceitação de animal silvestre à presença de humanos. O animal perdeu o medo de ver o homem como um predador, e acabou tendo essa situação com esse desfecho. Então, a coisa é incomum de acontecer, são poucos os relatos, e é uma pena que teve uma perda humana”, disse Araújo.
A equipe conseguiu fazer a captura com uso de armadilhas, apenas três dias após o ataque, e trazer o animal em segurança para Campo Grande. “Optamos por fazer a captura no mesmo local onde o animal esteve na noite anterior, para poder ter a maior certeza que era o animal que a gente buscava. É o mesmo animal que estava na área, porque a gente viu as pegadas, era o mesmo biótipo”, afirmou o professor.
Além dos exames para verificar o estado de saúde do animal, que está abaixo do peso – deveria pesar em torno de 120 quilos –, também é feita uma investigação pela Polícia Civil, para confirmar o ataque que causou a morte do caseiro.
O CRAS vai realizar todos os procedimentos de saúde no animal, com coleta de materiais para análise e também realização de exames de imagens. “Para fazer toda a parte de check-up e de saúde. Como é um caso muito atípico, a partir da avaliação clínica e de sanidade, vamos ver qual doença que ele tem, porque não é normal o animal desse porte estar tão magro, e assim podemos tentar relacionar ao caso”, explicou Araújo.
A situação da convivência do animal com humanos – e a alimentação oferecida para a onça, que é conhecida como ceva – é um ponto de atenção no caso. “A ceva é uma ação proibida na legislação estadual e federal”, afirmou o tenente Alexandre Saraiva Gonçalves, comandante do pelotão da PMA em Porto Murtinho.
“Tem alguns relatos chegando para nós, de grupos que eventualmente estariam se organizando no entorno da predação da onça-pintada. Nós temos um histórico, especialmente no Pantanal, muito positivo da interação dos produtores com a fauna. A gente tem que evitar que oportunistas, caçadores, gente que quer se aproveitar desse fato para atuar na caça, que isso aconteça. Então o Estado está redobrando a atenção. Esse é um crime ambiental gravíssimo, a caça de animais silvestres. E a gente vai tratar com o rigor da lei qualquer coisa nesse sentido, porque a gente tem absoluta convicção que não são produtores rurais, não são cidadãos de bem que estão se organizando no entorno dessas ações”, afirmou Falcette.