O incêndio no Pantanal destruiu área quatro vezes maior que a média histórica em 2020. Conforme levantamento da Rede Pantanal – formada por instituições, universidades e organizações não-governamentais – o fogo matou cerca de 17 milhões de animais e causou prejuízo de R$ 600 milhões apenas na área de infraestrutura, sem considerar os gastos com o combate e os danos à saúde.
“O Pantanal é a maior área alagada contínua do mundo e encanta por suas belas paisagens alta biodiversidade. Também é lar de mais de 3 milhões de pessoas, incluindo comunidades tradicionais e indígenas que dependem dos serviços providos pelo ambiente pantaneiro”, pontua a rede de pesquisadores.
“Infelizmente, essa enorme riqueza se encontra ameaçada por vários fatores, dentre os quais, as secas e os incêndios vêm se destacando nos últimos anos, particularmente os incêndios de grande proporção, como os ocorridos em 2020”, destaca. O estudo concluiu que o fogo destruiu 40 mil quilômetros quadrados – 4 milhões de hectares.
A área queimada representa quase quatro vezes a média história anual, em torno de 8,5 mil km² – 850 mil hectares. É a maior tragédia dos últimos séculos registrados na região.
De acordo com o professor de Ecologia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Danilo Bandini Ribeiro, uma série de fatores contribuiu com a tragédia, como a maior seca dos últimos 60 anos. Em um feito inédito, em decorrência das mudanças climáticas e do fenômeno El Nino, os rios não transbordaram e não houve cheia nem alagamento, comum na planície pantaneira.
Patrocinado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, o levantamento concluiu que aproximadamente 17 milhões de animais vertebrados morreram em decorrência do incêndio. A tragédia incluí todas as espécies, inclusive jacarés, onças e até aves. “O fogo foi muito intenso, que pegou até as aves não tiveram tempo de escapar”, lamentou Ribeiro.
A destruição da flora é inestimável. No entanto, em alguns casos, os pesquisadores descobriram que o fogo prejudicou as araras, que ficaram sem os tradicionais locais para fazer os ninhos. Elas costumam colocar os ovos em árvores com mais de 70 anos de idade, que viraram cinzas com o incêndio histórico de 2020.
A Rede Pantanal sugeriu uma série de medida para evitar que o incêndio nestas proporções se repita na planície pantaneira, considerada patrimônio natural da humanidade e uma das áreas mais ricas em biodiversidades do mundo.
“Continuidade e fortalecimento da REDE PANTANAL e expansão do conhecimento científico sobre os efeitos socioambientais dos incêndios no Pantanal”, propõe. “Ampliação das atividades de manejo integrado do fogo dentro e fora das unidades de conservação com a valorização do manejo tradicional”, enumera.
De acordo com Danilo Brandini Ribeiro, o manejo integrado do fogo é a principal medida para evitar novos incêndios, principalmente, que fogo controlado em fazendas saia do controle e destrua toda a natureza.
“Fortalecimento dos sistemas de Alerta e Alarmes (LASA) e de previsão da probabilidade do fogo (Cemaden), replicação do modelo de articulação Rede Amolar para outras regiões e ampliação do Peld. Mantenção e fortalecimento do projeto Noleedi” e a aliança entre ciência cidadã, políticas aplicadas e movimentos de base é chave para a conservação e desenvolvimento sustentável do Pantanal”, sugerem.
Ribeiro também diz que é importante a criação de brigadas contra o incêndio durante todo o ano e não apenas durante o período de estiagem. Os brigadistas poderão adotar medidas de prevenção e desenvolver o trabalho educativo e de conscientização dos produtores rurais e ribeirinhos.
A expectativa é que o Governo Lula mantenha a rede de pesquisadores atuando em defesa da região.