Produtores apontam discrepância de preços no mercado brasileiro em relação ao mercado internacional
A Aprosoja Brasil foi informada por produtores e empresas importadoras de insumos sobre uma possível formação de cartel no mercado de fertilizantes fosfatados concentrados. Segundo a denúncia, o preço desses insumos no Brasil estaria até 100 dólares por tonelada acima do praticado na Índia, apesar da tendência global de alta nos preços dos fosfatados.
Especialistas consultados pela Aprosoja Brasil apontam vários fatores que poderiam explicar a elevação dos preços dos fertilizantes fosfatados no cenário global. A China, por exemplo, importante fornecedor mundial desses insumos, adotou restrições nas exportações de ureia e fosfatos para controlar os preços internos e reduzir os custos para seus produtores, o que aumentou a demanda por esses produtos no mercado internacional.
Outros fatores, como o aumento dos custos de energia, problemas logísticos e sanções internacionais, também têm contribuído para a alta nos preços. Além disso, a busca por novos fornecedores, como Egito e Arábia Saudita, é uma resposta à crise de oferta global.
Contudo, essas justificativas não explicam totalmente a discrepância observada no Brasil. Em maio de 2024, a tonelada do superfosfato triplo (TSP) custava, em média, US$ 420 no Brasil, valor que subiu para US$ 520 em agosto. Durante o mesmo período, o mesmo fertilizante foi vendido na Índia por um valor 80 dólares menor.
Maurício Buffon, presidente da Aprosoja, reconhece que variações de preços entre diferentes tipos de fertilizantes são normais. "Estamos habituados a lidar com essas diferenças e buscamos sempre fechar o melhor preço possível. No entanto, não há explicação para essa diferença específica no preço do superfosfato triplo", afirmou.
Fabrício Rosa, diretor executivo da Aprosoja Brasil, reforça que o momento é delicado. "A última safra foi uma para esquecer, com queda de preço e produtividade. O cenário futuro não parece promissor, com Chicago sob pressão e os custos de produção ainda altos, não compensando a queda nos preços", comentou.
Diante dessa situação, Buffon informou que a entidade realizará um estudo mais detalhado e, dependendo do resultado, poderá apresentar uma denúncia ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). "Não podemos permitir que empresas que deveriam ser parceiras dos produtores tirem proveito de seu poder econômico, infringindo as leis brasileiras", afirmou.
Buffon também destacou a necessidade de comparar os preços atuais dos fertilizantes com os praticados durante a pandemia. "Na época da Covid-19, quando os produtos foram internalizados a preços mais baixos, as empresas reajustaram os fertilizantes. Agora, com a redução dos preços dos grãos no mercado internacional, os valores dos fertilizantes continuam altos. As multinacionais lucraram bastante, conforme mostram seus balanços, mas não estão refletindo essa queda de preços em seus produtos", concluiu.